Realizado pela primeira vez no Brasil em 2006, atualmente o vazio sanitário da soja acontece em 13 Estados e no Distrito Federal.
O vazio sanitário é o período em que é proibido manter plantas de soja vivas na lavoura. O objetivo dessa estratégia é prevenir a disseminação da ferrugem-asiática, doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Obrigatória em todas as regiões do país, a medida está em vigor neste momento, com previsão de término na primeira semana de setembro para algumas regiões.
Na agenda do vazio sanitário, cada região tem uma data certa para iniciar e encerrar o período sem soja no campo. A duração da norma pode variar de 60 a 90 dias, de acordo com a região. Esse tempo foi definido a partir do entendimento de que os esporos do fungo ficam em suspensão no ar por pelo menos 55 dias.
O vazio sanitário da soja
A primeira vez em que a ideia de quebrar o ciclo da ferrugem-asiática foi colocada em prática ocorreu em 2006, nos Estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na safra de soja 2006/2007 foram registrados 2.980 focos da doença em todo o Brasil, o que provocou perdas de 2,67 milhões de toneladas de grãos – um prejuízo de US$ 2,19 bilhões.
Em 2007, o vazio sanitário foi oficializado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com a publicação da Instrução Normativa Nº 2, de 29 de janeiro de 2007. Nessa data, também foi instituído o Programa Nacional de Controle da Ferrugem-Asiática da Soja (PNCFS).
O que é a ferrugem-asiática?
A ferrugem-asiática é uma doença provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, e seus primeiros relatos no Brasil aconteceram na safra 2001/2002. A partir daí, a doença se tornou um dos problemas mais desafiadores aos produtores de soja.
A ferrugem tem um alto potencial de dano na soja. O ciclo do fungo é muito rápido – varia de seis a nove dias – e pode atacar as plantas em qualquer estádio de desenvolvimento. Causa grande desfolha nas plantas e prejudica muito a produtividade da lavoura.
Danos causados pela ferrugem-asiática
Em praticamente uma semana, o fungo da ferrugem consegue se instalar na soja, se reproduzir e soltar esporos por toda a lavoura.
Os primeiros sintomas da ferrugem-asiática são pontos escuros bem pequenos, de 1 a 2 mm de diâmetro, na face inferior das folhas. Esses pontos têm a coloração esverdeada ou cinza-esverdeada. Com o avanço dos sintomas, as lesões podem atingir de 2 a 5 mm de diâmetro, aparecendo também em pecíolos, vagens e caules.
Com essas lesões se formam as urédias, que são as estruturas de reprodução do fungo. Elas mudam de cor, passando para tonalidades de castanho-claro a castanho-escuro – é nesse momento que os esporos do fungo são disseminados na plantação.
Em ataques muito severos, as plantas de soja ficam em um estado semelhante ao de plantas dessecadas por herbicidas.
A ferrugem-asiática pode causar danos capazes de reduzir de 10% a 90% da produtividade da lavoura. A desfolha causada pela doença diminui o tamanho dos grãos, e reduz a produção e a qualidade do produto.
Manejo da ferrugem-asiática da soja
O fungo da ferrugem-asiática precisa de um hospedeiro vivo para se desenvolver e se multiplicar. Por isso, a eliminação das plantas de soja na entressafra quebra o ciclo do fungo e reduz a quantidade de esporos presentes na lavoura.
Sendo assim, é importante fazer a semeadura da soja no período recomendado para a região e evitar o atraso no plantio. As semeaduras tardias deixam a soja exposta aos esporos do fungo desde os primeiros estádios vegetativos.
Além disso, o monitoramento da lavoura para a presença da ferrugem precisa ser constante. É comum que, em semeaduras tardias, aconteçam pulverizações de fungicidas mais cedo e com maior repetição durante o período, para evitar impactos da doença.
Segundo a Embrapa, o controle da ferrugem-asiática da soja possui um custo médio de US$ 2,8 bilhões por safra.
Além do vazio sanitário e da eliminação de plantas espontâneas (tigueras), as estratégias de manejo para o controle da doença incluem:
- Utilização de cultivares de ciclo precoce.
- Semeaduras no início da época recomendada.
- Uso de cultivares com genes de resistência.
- Monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura.
- Utilização de fungicidas.
Vazio sanitário 2020
O vazio sanitário da soja começou em junho de 2020 em alguns Estados brasileiros. O Paraná foi o primeiro, em 10 de junho. No mesmo mês, os Estados de Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Roraima iniciaram a estratégia.
Os Estados do Pará e Maranhão são divididos em microrregiões e têm datas diferentes para o início do vazio. Em julho, a microrregião 1 do Pará e o Estado de Minas Gerais não podem ter mais plantas de soja em suas lavouras.
As primeiras sementes de soja só podem voltar para o campo a partir de setembro, em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. As últimas regiões brasileiras a iniciarem o plantio da soja serão a microrregião 3 do Estado do Pará e a microrregião 2 do Maranhão. O fim do vazio para esses Estados é somente em novembro.

Nesse período de vazio, é muito importante fazer o monitoramento e a retirada das tigueras. Esse manejo é de responsabilidade do produtor, e os Estados fazem a fiscalização, que pode gerar multas. Seguir os calendários de vazio para a sua região é essencial para uma lavoura sem ferrugem.