As áreas cultivadas com sementes transgênicas ao redor do globo somam 191,7 milhões de hectares. Desse montante, 50% corresponde ao plantio de sementes de soja geneticamente modificadas.
De acordo com levantamento do ISAAA (Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia) divulgado em 2018, o Brasil é responsável por 26,7% da área semeada com biotecnologia no mundo, o que representa 51,3 milhões de hectares, dos quais 68,3% são destinados ao plantio de soja transgênica.
Com esse panorama, podemos entender a importância da biotecnologia das sementes para produtores no Brasil e no mundo e o tamanho do desafio para fazer com que essa ferramenta seja eficiente por mais tempo possível.
Por isso, o planejamento de qualquer produtor de alta performance não pode deixar o refúgio de lado, principalmente quando a cultura de soja instalada é transgênica e apresenta resistência ao ataque de pragas (Bt).
A soja Bt: é a soja que teve seu código genético modificado, recebendo genes da bactéria Bt (Bacillus thuringiensis). Essa bactéria produz proteínas tóxicas para algumas pragas que atacam as lavouras de soja. Com a introdução dos genes Bt na planta, ela também passa a expressar essas proteínas inseticidas.
Sim, a adoção do refúgio é a principal ferramenta de manejo de resistência de insetos e, atualmente, é a principal responsável pela manutenção da eficácia da biotecnologia INTACTA RR2 PRO® nas lavouras do Brasil e do mundo.
O refúgio para soja
O refúgio você já conhece bem. É uma parte da lavoura de soja INTACTA RR2 PRO®, com soja não Bt - soja RR (resistente a glifosato) ou convencional.
A ideia é cultivar 20% da área total da lavoura com plantas não Bt próxima à cultura com resistência a insetos. Essa área tem a função de produzir insetos suscetíveis às proteínas inseticidas Bt. Os insetos oriundos dessa área poderão se acasalar com os insetos sobreviventes das áreas plantadas com soja Bt, possibilitando a manutenção da suscetibilidade a toxina Bt.

Quanto custa o refúgio para soja?
Reformulando a pergunta, talvez fosse melhor questionarmos quanto vale o refúgio para a soja. Segundo relatório divulgado em 2019 pelo CIB (Conselho de Informações Sobre Biotecnologia), de 2005 a 2018, as sementes de algodão, milho e soja resistentes a insetos disponibilizadas no país renderam um lucro adicional de R$ 21,5 bilhões para os agricultores.
O relatório também apresenta uma projeção interessante: daqui 10 anos, o lucro acumulado dos agricultores que utilizam a tecnologia Bt pode alcançar R$ 70,5 bilhões. Além disso, no mesmo período pode haver uma economia de R$ 15,8 bilhões no custo de produção, considerando produtos inseticidas, maquinário e demais insumos necessários para o manejo de pragas.
Dados como esses reforçam que biotecnologia Bt e refúgio devem “caminhar juntos” nas lavouras, não apenas para o maior benefício da tecnologia, mas para que o impacto econômico e social positivo gerado por sementes transgênicas continue sendo efetivo. Porque o refúgio não custa, vale. E vale muito se a soja Bt continuar realizando seu trabalho de forma eficiente.
Quais fatores são essenciais no planejamento de refúgio para soja?
É importante focar em quatro fatores cruciais para a implantação e execução de uma área de refúgio de soja eficiente:
A escolha do talhão
Nessa fase do planejamento, conhecemos as melhores composições de refúgio considerando o tamanho total da área da lavoura de soja. É preciso destinar 20% desse total para a área de refúgio de soja sem esquecer da distância de 800 metros entre a soja Bt e a soja convencional.
A escolha da cultivar de soja
A cultivar destinada para a área de refúgio não pode expressar o Bt – que confere proteção contra pragas. É necessário escolher variedades convencionais ou RR – que são transgênicas também –, mas expressam apenas proteção contra herbicidas à base de glifosato.
A escolha do ciclo da cultivar de soja
A produtividade da área de refúgio não deve ser desconsiderada. Com trabalho focado na soja não Bt, é possível obter resultados muito positivos. Mas para que isso aconteça de forma adequada, o ciclo da variedade semeada deve corresponder à estratégia total da lavoura, para facilitar o plantio na janela mais adequada da região, o manejo, a colheita e todos os trabalhos operacionais a campo.
Manejo específico para o refúgio
Para que a área de refúgio funcione com eficácia no manejo de resistência de insetos, é muito importante considerar o uso de inseticidas alternativos, que não sejam à base de Bt. A adoção de produtos seletivos também é um diferencial, pois permite o trabalho de agentes biológicos presentes na lavoura.
Sendo assim, planejar refúgio é também planejar o manejo do refúgio, para que, após o monitoramento da área, não haja surpresas ou uso de produtos inapropriados.
O Manejo de Resistência de Insetos (MRI)
O MRI é um conjunto de medidas que são adotadas para retardar a evolução da resistência de insetos às proteínas Bt. O refúgio é a principal ação dentre todas as medidas, mas as boas práticas agronômicas (BPA) também integram o MRI. Saiba quais são:
- Dessecação antecipada para controle de plantas daninhas e voluntárias
- Rotação de princípios ativos de inseticidas
- Monitoramento da área após a aplicação de inseticidas
- Rotação de culturas
- Tratamento das sementes
Refúgio para soja é benefício para todos
Adotar refúgio é a forma mais prática de promover a longevidade das biotecnologias em qualquer cultura que conte com a tecnologia Bt. Para a soja, essa ação tem um valor muito grande porque, hoje, a oleaginosa é um dos grãos mais importantes do planeta e representa uma grande parcela da exportação do agronegócio brasileiro.
O refúgio para soja pode ajudar produtores economicamente e socialmente, impactando inclusive, nas regiões produtoras como um todo.